Saturday, October 14, 2006

Revisão

Revisão

Era uma vez que ela era uma pedra que gritava alto e pulava feliz quando dançava a valsa e ria alto da serra-precipício que chega mais forte aqui que se diz tudo que a fazenda tem de comum com o colibri que voa feliz e assim pra sempre voando até chegar no fim do dia da vida de cada um que chora a qualquer hora que a bela e normal como filmes que passam na TV que mostram aparelhos modernos do nosso século que já morreu a anos e que ainda vive debaixo da água que cobre o vestido bonito e azul do céu que fica cinza como um fio do cabelo caído do botão amarelo que é a cor do bebê morto com tiros do céu que é transparente como a furta cor dos seus olhos que nada podem ver dentro do vazio de ninguém que jamais soube ler, mas que toca violino muito bem onde folhas escritas estão em branco voando na cabeça das bonecas de vidro da porcelana que se parte em cima do carro velho com mil cacos de plástico espalhados no corpo amarrado e azul de quem não tem amor e corre depressa para nada alcançar no fim da estrada de vento cheia de ciscos vivos com facas que devoram seu corpo dentro da caixinha de música da sua infância que tinha a cor da mancha do asfalto colorido-desbotado onde pessoas comem suas esperanças alimentando-se de nada em plena cidade onde nada é tudo.
Patrícia Paixão Martins
26/06/06

Friday, October 13, 2006

A tempestade parece se aproximar em meio a dias irracionais, onde a tessitura do escuro além do umbral da porta se distorcem malignamente. Em alguns versos destilo minha confusão.

Tempestades a bordo

Minha amada, outrora te escrevi as linhas mais belas,
E agora retorno para falar-te que sinto medo,
De que nosso amor, tão possante, se desvaneça cedo,
Desfazendo nossas juras e as verdades contidas nelas.

Vivemos uma historieta romântica, uma fantasia tantalizante,
Mas agora a realidade tenta nos sobrepujar com a dor,
e o peso da responsabilidade fez nosso beije perder o sabor.
Parece o rumo à escatologia completa de nossa união fascinante.

Nenhuma de minhas palavras e canções foram vazias,
Não haviam como ser, pois fizeste retumbar meu coração,
Em uma marcha que ressoava sempre ao te ver, em adoração.
É impossível esquecer-te, tua face e bochechas macias.

Sei que parte do meu coração nunca mais será meu novamente,
Assim como parte de ti se desgastou no fulgor dos nossos encontros,
E se perdeu para sempre. De tão enamorados, nós fomos tontos,
Abrindo assim a barreira que nos separava do pecado eminente.

A vergonha se encerra em nós, sonhadores de uma outra época,
Em que não existiam doenças, dores, destruição, dúvidas ou desesperos,
Apenas os nervosismos e as ansiedades jovens, pequenos destemperos,
Comparados ao nosso fardo cruel, isento de súplicas.

Meu pequeno Amor, não desvies o teu olhar das minhas lentes,
Vê que ainda te amo, com a chama da eternidade da minha paixão atroz.
Com tua sinceridade, diga-me, de agora em diante, o que será de nós?
Minhas mãos estão contigo, preparadas para nossos atos penitentes.

Não deve haver, mesmo em um torpe mundo, erro que não se repare,
Nem mal que se arraigue tão fundo, que não possa ser decepado.
Ainda mais se o infortúnio foi por um Amor puro realizado.
Em minha descrença peço a Deus que com sua piedade nos apare.

O que será de nós?

Thursday, October 12, 2006

Meia-noite, momento em que os escravos da conexão discada - como eu - migram loucamente para a grande rede, onde ficam a esperar minutos a fio enquanto uma simples página abre, consumindo todo o prazer de estar conectado e remetendo o internauta marginal aos acessos de ânsia.
Inicio agora este blog meio desleixado, apenas como veículo para expôr minhas humildes opiniões sobre minha vidinha muito cheia de rotina, porque assim a quis.

Como introdução, eu gostaria de postar uma poesia da qual gosto muito, do norte-americano Allen Ginsberg e que sintetiza a eterna busca pelo Amor e pela compreensão que muitas almas humanas empreendem. Aí vai...

Canção
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.