Friday, July 20, 2007
Literatura do Fundo do Poço
“Quando uma intolerância autodirigida é alimentada, uma outra, mais geral, é disseminada nos autos da vida”, voz do além ecoando em um tom sábio.
Marcos, ou Maria, ou Transgênero, chegam em suas casas, ou apartamentos, ou mansões - alugados(as), ou comprados(as), ou alheios(as). O espelho espera impiedosamente, as maldições, as incoerências ou os raros elogios. Nos últimos meses, dias ou anos, nada foi muito memorável - e boas memórias a vida costumava ser.
Então, num súbito raiar do dia, a memória já não provinha bons frutos. Como premeditavam os tempos, chega um momento em que o chão ou o céu se abre e a queda ou tempestade se torna um alienígena perseguidor.
Adulteza?
Marcos, ou Maria, ou Transgênero, insultavam seus corpos no vidro. Refletiam aquilo que odiavam - tortura. Mudar o ódio em Amor ou qualquer essência palatável parecia outra tortura - que não dava prazer. Ele, ou ela, ou ela/ele odiavam o machismo, o feminismo ou os dois ao mesmo tempo.
A chuva caía pelo teto impenetrável - sem escapatória para o incômodo.
A água molha o espelho - ele se transforma num rio. O rio seca – agora, uma poça. Ou um poço? Sim, a água é barrenta e espirala por um buraco invisível - o buraco do fundo do poço.
A água do poço, tão funda, nunca esperaria ninguém. Porém, Marcos, ou Maria, ou Transgênero descobrem algo fundo sobre si mesmos: estão viciados em seus próprios reflexos na água barrenta.Depois disso, nada mais é límpido.
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